Oberon sorri, vitima do habito cortês. O jovem com asas de morcego corre desajeitadamente puxando uma cadeira para o recem chegado.
-Por favor, sente-se Abade. Devo pedir algo para ti? - Oferenda empurra a cadeira em direção a Oberon, querendo ser prestativo com ela, mas visivelmente tendo dificuldade de segura-la com os três dedos funcionais.
Oberon poderia sorrir sincero, por ver o quanto o jovem se esforça. Mas se sente cansado, não demonstrando. Apenas aceita a cadeira, com um aceno cortês da cabeça.
Oferenda corre até o tomo que estava lendo, o terceiro dos ultimos dois dias (Outro esforço cristalino aos olhos de Oberon) e se senta proximo aos pés de seu mestre.
O rosto do Abade se transforma gradualmente, o que encanta Oferenda apreciando em silencio. É surpreendente para ele, a facilidade com que o Abade Oberon muda a si mesmo, em conceitos tão ricos que poucos parecem notar.
O pensamento de Oberon divaga. O maior movimento politico que participou foi recente, um golpe de estado. Lucios Aurelios foi tirado do poder, junto a sua loucura, sua revolução e sua quebra do status-quo. Era o que Lucios pediu a Oberon. "tome as redias da situação, você é o ancião agora".
Oberon pesa o momento em ponderação. Nota que mudou a si mesmo, não só fisicamente, como politicamente. Ele se expôs, quebrando sua regra pessoal. Ele foi ativo, liderou claramente a coterie que recuperou Victor Premysl, tendo sucesso numa missão improvavel. Ele estruturou o Golpe de Estado.
Tudo que era possivel para evitar sangue derramado, foi feito. E tiveram sucesso em não alimentar a "terra". Tantos certos no check-list mental de Oberon. Mas não há uma sensação gratificante.
A canela de Oberon é tocada, saindo do transe ele nota Oferenda encostado na lateral da cadeira.
O olhar vai para o vazio, e a conclusão obvia escapa dos labios do Abade
-é tão pesado. - Oberon murmura, num movimento envelhecido, minguando.
-Você faz o que é necessario, Oberon. - Oferenda fala, e poe os três dedos funcionais sobre a mão de Oberon, um pequeno tolo rico em sabedoria.
- Doi tanto sangrar a Baviera. - Oberon respira, com o olhar parado - Se tiver mais vitorias como essa, estamos perdidos.
- Você não pode ajudar a todos Oberon. - O jovem compadecido, sorri.
- Eu não quero ajudar a todos. - Murmura o Abade, esgotado. Como um mantra a si mesmo, querendo matar algo que o incomoda por dentro.
-Claro que não. - Oferenda fala palavras reconfortantes, obviamente mentira. E ele apenas fica ali, junto a um velho exausto.
Oberon se amaldiçõa por se expor. Internamente fica com raiva por notar o carinho do experimento fracassado por ele, mas se sente tão fraco para tomar uma atitude.
Matar os sentimentos, todos eles, facilitaria tanto seu trabalho, pondera. E sentir emoções vai tanto contra seu caminho escolhido, tudo seria mais facil. Oferenda tem todos os motivos para odia-lo. Porque ele opta por carinho, compaixão?
É engraçado até, que um pirralho como oferenda consiga metaforicamente chegar ao tesouro do dragão. A ironia faria Oberon rir, se fosse outro momento, ao perceber que o pirralho virou um de seus maiores tesouros. Alguem que ele se importa.
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Moral: "não a um Sabio que nao tenha mais nada a aprender, não a um tolo que não tenha mais nada a ensinar."

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